Neste Mês, o Ministério da Educação [MEC] começa a análise do projeto da
Universidade Federal do Oeste da Bahia [Ufob], que pode ser criada a
partir do desmembramento de uma unidade da Universidade Federal da Bahia
[Ufba], em Barreiras. Depois do MEC, o texto segue para o executivo e
para o congresso. Se for aprovada, a Ufob começa com seis cursos de
graduação, 74 professores e 680 alunos.
De públicas, somente a Ufba e a Uneb, que atendem juntas a 2.136 alunos,
têm campus na região e oferecem 12 graduações. Mas se um barreirense
quiser cursar jornalismo, por exemplo, fica mais perto estudar na
Universidade de Brasília [598 km] do que em Salvador [842 km].
A região em que a Universidade do Oeste pode ser implantada tem cerca de
um milhão de habitantes, da cidade de Barreiras e dos arredores. Com a
criação da Ufob, pretende-se expandir o número de cursos e aumentar os
investimentos em ensino, pesquisa, extensão e infra-estrutura, além de
contribuir para o desenvolvimento da região oeste. Em Barreiras, apenas
7,5% dos estudantes estão matriculados em cursos de 3º grau, sendo que,
dessa totalidade, somente 2% estão em instituições públicas.
Durante quase 60 anos, a Ufba foi a única universidade Federal do
estado, enquanto a maior parte das capitais do Brasil têm no mínimo
três. Isso só mudou em meados de 2005, quando foi sancionada a lei que
criou a Universidade Federal do Recôncavo Baiano [Ufrb], também fruto de
um desmembramento, este do campus de Cruz das Almas.
A Ufob foi idealizada pela Ufba em 2006, e foi a sua provável
emancipação que motivou a construção do campus Barreiras, atual
Instituto de Ciências Ambientais e Desenvolvimento Sustentável [ICADS].
“Há muita vontade de que isso saia do papel. O MEC nos pressionou para
acelerar a elaboração da proposta acadêmica e administrativa da
universidade“, conta o reitor da Ufba, Naomar Almeida.
Acelerado – Com o processo correndo mais rápido, os
alunos acabaram se sentindo atropelados e confusos. “No ano passado,
tivemos que lidar com muitas informações. Reuni, Universidade Nova,
desmembramento. Parecia tudo a mesma coisa. Ninguém da administração nos
explicava o que estava acontecendo“, se queixa Amanda Santos, 19, aluna
da Unidade Barreiras. Ela faz parte da comissão de desmembramento, o
conselho que, teoricamente, ajudaria a montar o projeto. No entanto, a
estudante nunca foi convidada para as reuniões que aconteceram em
Salvador.
Nenhum estudante entrevistado pelo Vestibular se coloca contra a
mudança, mas todos reclamam da forma como o processo aconteceu. “Eu
acreditava que esse desmembramento ia ser feito, mas não agora. Parece
que tem uma dimensão muito mais política que educacional. Até
abaixo-assinado a prefeitura de Barreiras passou na cidade, para
acelerar a criação e aprovação da Ufob“, preocupa-se Débora Rodrigues,
19, aluna de geografia.
Se o projeto for aprovado, os alunos do ICADS que não estiverem cursando
o último semestre de seus cursos sairão com o diploma carimbado pela
Ufob.
Para os universitários, o maior receio são as deficiências do campus
atual, onde faltam professores e a infra-estrura é deficiente. Hoje, a
Ufba de Barreiras funciona em colégio público adaptado. “Se eu entrar na
Ufob e fizer um curso de qualidade, o nome não vai fazer tanta
diferença e sim a profissional que eu vou ser. Meu medo é não ter essa
qualidade, entende?“, questiona Débora.
Transição – A diretora do campus Barreiras, Joana Luz,
explica que os estudantes recém-chegados não conseguiram se organizar a
tempo para participar da criação do projeto. Ela também assegura que o
desmembramento vai viabilizar as melhorias necessárias ao campus.
”Só definimos estrutura acadêmica e administrativa, que estão sujeitas a
mudanças, a depender de quais sejam os resultados da aplicação”. A
diretora informou que as discussões sobre o estatuto da universidade, a
escolha dos cursos a serem criados, as prioridades de investimentos e
outros assuntos ligados à instituição serão discutidos com os
estudantes. ”Quanto aos problemas de infra-estrura, estamos finalizando
até o segundo semestre deste ano a construção de um novo campus”.
A experiência do Recôncavo
O campus de Cruz das Almas que deu origem a Ufrb tinha apenas um curso,
agronomia. Desde a “independência“, foram criados campi em mais três
cidades e o número de graduações aumentou para 24. Quando era Ufba,
entravam 120 alunos por ano; como Ufrb, entram 1.420. O orçamento que
custeia tudo isso também subiu: passou de 500 mil para 15 milhões.
Todo o processo burocrático de aprovação da universidade demorou cerca
de três anos. Paulo Soledade, reitor da Ufrb, acredita que com a
aprovação do Reuni no ano passado, o processo será mais fácil para a
Ufob.
Para o reitor, a Bahia é prejudicada pelos baixos investimentos do
governo federal em ensino superior. ”Cada grande região do Estado deve
ganhar uma instituição federal. Começou pelo Recôncavo, está acontecendo
com o oeste, mas que não pare por aí. O impacto econômico e cultural de
uma universidade é inimaginável”.
Comissão – Para discutir a criação da Ufob, a Ufba
montou uma Comissão de Desmembramento. À Federal da Bahia coube
justificar a criação da instituição e elaborar seu projeto acadêmico e
administrativo. Foram definidos número de professores [70], funcionários
[30] e orçamento do primeiro ano: R$ 31 milhões.
O projeto finalizado foi enviado ao MEC no dia 3/7. O Ministério vai
avaliar a demanda regional, a abordagem socioeconômica e a
infra-estrutura proposta.
”Como a universidade virá de um campus que já funciona, o projeto provavelmente será aprovado na íntegra, como fizemos com a Ufrb”, explica Maria Ieda, responsável pelo Reuni.
”Como a universidade virá de um campus que já funciona, o projeto provavelmente será aprovado na íntegra, como fizemos com a Ufrb”, explica Maria Ieda, responsável pelo Reuni.
A Tarde - julho
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