Nesta segunda-feira (11), o Papa Bento XVI anunciou que irá renunciar
em 28 de fevereiro. Ele, que tem 85 anos e ficou oito no papado, alegou
problemas de saúde devido à idade avançada e desejou o fim das
rivalidades e divisões internas na Igreja Católica.
Bento XVI foi escolhido em abril de 2005 para suceder João Paulo II,
um dos pontífices mais populares da história. Sua renúncia tem gerado
especulações sobre seus reais motivos – muitos acreditam que teve a ver
com divisões e disputas internas na Igreja, bem como com a falta de
popularidade do Papa. Em 15 a 20 dias após a renúncia, será realizado um
conclave, ou reunião de cardeais para escolher um sucessor.
Seis papas abdicaram do posto antes de Bento XVI, mas outros já foram
forçados a fazer isso por razões políticas ou territoriais. O último
caso havia acontecido há quase 600 anos: em 1415, o Papa Gregório XII
anunciou a saída do cargo para resolver uma disputa interna na Igreja
que havia resultado no Cisma do Ocidente, uma crise religiosa entre os
anos de 1378 e 1417 na qual, por causa do autoritarismo do Papa eleito,
surgiram outros dois Antipapas para disputar o poder, um em Pisa e outro
em Avignom (França).
O poder da Igreja
“É importante que o aluno estude o papel da Igreja na História do
Ocidente. Ela sempre teve grande importância política, social e
econômica e entrou em crise no século 16, com o Renascimento. Mas
manteve certo poder até parte do século 20”, diz o professor de
Filosofia do Cursinho do XI, Antonio Spirandeli Junior.
O último grande feito político de um papa foi em 1979, quando João
Paulo II teve um peso importante na desestabilização dos regimes
socialistas do Leste Europeu. Em 2005, a revista Superinteressante
publicou uma matéria que falava sobre isso (na íntegra aqui).
Depois disso, a Igreja foi perdendo o seu poder. “Ela não soube dar
uma resposta para a angústia e as exigências do homem pós-moderno, pois
está arraigada a um tipo de pensamento anterior”, explica o professor
Antonio, que é formado em Teologia.
O Concílio Vaticano II, uma série de conferências realizadas entre
1962 e 1965 e conduzidas pelo Papa João XXIII, foi uma tentativa de
modernizar e abrir a Igreja para o diálogo, estabelecendo que a mensagem
católica deveria ser inteligível para o mundo, com missas realizadas
nas línguas nacionais e não mais em latim, com o padre de costas para os
fiéis, por exemplo. Isso dividiu mais a Igreja entre grupos mais
progressistas e mais conservadores e, com o Papa João Paulo II, houve um
congelamento dessa modernização. Por sua vez, Bento XVI responsabilizou
a mídia pelo que chamou de interpretação distorcida das reuniões da
igreja na época, defendendo que o Concílio não foi uma ruptura
revolucionária com o passado, como consideram os católicos liberais, mas
apenas uma renovação.
“Mas existe uma contradição na postura de Bento XVI, uma vez que ele
foi um conservador que veio combater a modernização e o diálogo, mas sua
renúncia pareceu um apelo contrário – o de que a Igreja deve, sim,
mudar”, explica o professor Antonio.
O que é preciso saber
“É importante que o vestibulando saiba que o Vaticano é a única
monarquia absolutista que temos. O Papa exerce o papel de rei com plenos
poderes: legisla, administra e julga, tendo o poder de condenar ou
perdoar”, explica o professor Célio Tasinafo, do Cursinho Oficina do
Estudante.
Segundo ele, também é bom estudar a história da Igreja como força
hegemônica durante a Idade Média e suas alianças com monarquias
absolutistas. A partir do ano 391, quando o imperador Teodósio tornou o
catolicismo a religião oficial do Império Romano, a Igreja passou a
acumular fortunas e territórios. A estrutura com padres e sacerdotes na
base da pirâmide, bispos acima e o papa no topo já estava definida no
século 5.
Na Idade Média, os sacerdotes detinham não somente o poder político e
econômico, mas também o conhecimento: diferente da maioria da
população, eles sabiam ler e escrever. O pensamento filosófico da época
foi influenciado intensamente pela Igreja e os maiores expoentes da
filosofia medieval eram religiosos: Santo Agostinho e Santo Tomás de
Aquino.
A decadência do poderio da Igreja veio com o fim do feudalismo. A
partir do século 11, a Europa entrou em um período de relativa calmaria,
a agricultura se desenvolveu, a população aumentou e o feudalismo
deixou de funcionar na sociedade em expansão, com o aumento da pressão
pelo aumento do comércio e pela urbanização. Nascia um novo sistema
econômico: o capitalismo. Começava a Idade Moderna e a Igreja perderia o
seu imenso poder.
No vídeo abaixo, o professor Célio traz mais informações sobre a renúncia do Papa e a história da Igreja:
Guia do Estudante
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