João Carlos Teatini, diretor de Educação a Distância da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes)
O MEC (Ministério da Educação) tem o plano de triplicar o número de
matrículas em cursos públicos de EAD (Educação a Distância) até 2014,
passando dos atuais 210 mil alunos para 600 mil. O dado é do diretor de
Educação a Distância da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior), João Carlos Teatini, responsável pelo programa UAB
(Universidade Aberta do Brasil). Entre os obstáculos, segundo o gestor,
estão o preconceito e a resistência ao modelo e as dificuldades de
conexão e falta de banda larga pelo país.
A UAB é um sistema integrado por universidades públicas de todo o país,
que oferecem ensino superior a distância. Implantada no segundo
semestre de 2007, ela dispõe de cursos de licenciatura, formação
pedagógica, bacharelado, tecnólogo e sequenciais. Há também formação
continuada nas modalidades de especialização, aperfeiçoamento e
extensão, e o Profmat (Programa de Mestrado Profissional em Matemática
em Rede Nacional). Atualmente, a UAB tem cerca de 11 mil professores
formados em graduações e outros 16 mil concluintes.
Em entrevista ao UOL Educação, Teatini, que é
engenheiro e professor da UnB (Universidade de Brasília), explicou que o
programa tem duas prioridades: formação de professores, em caráter
emergencial, e instalação de cursos com foco no desenvolvimento do país.
Confira:
UOL Educação: Quais são as prioridades da UAB?
Teatini: A prioridade é a formação de professores.
Temos hoje cerca de 1,7 milhão de professores na educação básica pública
e cerca 400 mil sem formação adequada, conforme determina a LDB [Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional] de 1996. Entre os objetivos
também está o apoio a cursos com foco a desenvolvimento regional. Sendo
otimista, assim que a formação de professores, de caráter emergencial,
entrar no fluxo, vamos abrir mais UAB para cursos com outros focos,
pensando no desenvolvimento do Brasil.
UOL Educação: Quais são as regiões foco?
Teatini: A maior concentração de ensino superior
privado está no Sudeste (85%). Majoritariamente, essas redes atendem as
periferias das grandes cidades, e este é um campo amplo para a UAB.
Hoje, temos a meta de alcançar 20% dos municípios do Brasil com polos da
UAB. A princípio, os municípios com 50 mil habitantes são candidatos a
ter polos, desde que exista uma instituição pública com interesse e apta
a oferecer curso naquela localidade.
Já temos na região amazônica 19% dos municípios com UAB. No Sudeste,
12%. A média nacional é de 14%. Precisamos olhar o número de municípios e
a população e também as desigualdades regionais.
UOL Educação: Quantos estudantes a UAB pretende alcançar?
Teatini: Estamos com 210 mil alunos. Nesse primeiro
semestre, temos mais 40 mil vagas. Até 2014, a meta é chegar a 600 mil
alunos matriculados na formação inicial e na continuada. A intenção é
triplicar o número atual. Temos 92 instituições cadastradas, e há
pedidos de instituições para participar da UAB, levando esse número a
100. Queremos que todas as instituições federais e estaduais participem.
Há a perspectiva de chegarmos a mil polos até 2014.
UOL Educação: Como são os custos para essa expansão? Há recursos disponíveis para isso?
Teatini: Há recursos [para 2012, a dotação é de R$ 370
milhões]. Existe uma economia de escala que é uma coisa muito
interessante. Comparar o investimento em EAD com o investimento em
educação presencial é como comparar o de construir uma rodovia com o de
uma ferrovia: a ferrovia tem um investimento inicial maior, mas, para
conservação, gasta menos. O custo-aluno é extremamente competitivo em
EAD [De 2007 a 2011, a UAB investiu cerca de R$ 1,5 bilhão].
UOL Educação: Qual é o maior desafio para expandir o programa?
Teatini: Existe o preconceito contra a EAD, que tem
vários aspectos. E o maior desafio é que o Brasil é continental. A EAD
não pode ter soluções únicas, precisa ter flexibilidade. Hoje, um
problema sério é a banda larga. Até Manaus, que é uma capital, tem
dificuldades de conexão. Além disso, no sistema da educação brasileira, a
autonomia dos estados e municípios faz com que muitos não tenham
carreira, não respeitem o piso do magistério e não apliquem o PIB em
educação. Precisamos ter um Sistema Nacional de Educação, para garantir
salário atraente e formação adequada.
UOL Educação: Existe a perspectiva de abrir mais cursos de mestrado a distância? Hoje, só temos o Profmat.
Teatini: Estão sendo estudados um curso na área de
letras e outros dois na área de química e física. A previsão é de que,
para 2013, já existam mais alunos em mestrados a distância.
UOL Educação: A evasão de cursos da UAB é maior que a de cursos presenciais?
Teatini: Esse é um boato espalhado principalmente
pelas pessoas que são contra a EAD. Há cursos presenciais na UnB que têm
evasão enorme. Até pouco tempo, nas engenharias, a evasão estava
chegando a 50%. A taxa geral aproximada de evasão de alunos da UAB é de
20%, e varia por tipo de curso ou polo de apoio presencial.
UOL Educação: Em quais cursos a evasão é maior?
Teatini: A maior evasão se dá nos cursos de formação
continuada para professores. Muitas vezes as secretarias de Educação não
apoiam os professores. Outra questão séria é que as carreiras não
estimulam professores a buscar formação. Há estados, por exemplo, em que
um professor que faz a graduação tem aumento de 5% no salário, o que é
muito pouco. Para professores de universidades que fazem mestrado, o
salário sobre 50%.
UOL
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